Quando eu era Testemunha de Jeová, a coisa que mais me aterrorizava na vida era o Juízo Final. “Jesus está voltando” e “estamos nos últimos dias” eram as frases que mais ouvia naquela época e que mais martelavam no meu psicológico de pré-adolescente de 11 anos de idade. Vivia regrando meus passos para não pecar e toda vez que ia fazer algum ato estranho à minha rotina, ia na bíblia consultar se aquele ato não era pecado.
Lógico que, para terminar de me ferrar, vivia tendo frequentemente pesadelos com o Armagedon e neles Jesus me condenava à destruição das maneiras mais cruéis possíveis: era incinerado por raios; transformado em pedra enquanto abraçava a minha mãe aterrorizado; lançado em um poço de lava que se abria sob os meus pés enquanto andava pela rua… e ainda havia os pesadelos profanos, em que eu jurava que estava tendo um contato com o deus cristão, mas que no segundo seguinte ele se transformava no Demônio e me arrastava para o inferno. Por 6 longos anos, eu não sabia o que era paz, e se alguém me dissesse que dali a alguns anos eu estaria debochando de tudo isso que me aterrorizava tanto quanto ter uma arma apontada em minha cabeça, eu diria que aquela pessoa estava comendo merda, porque aquilo para mim era a verdade absoluta e incontestável e não tinha como eu me livrar daquilo. Claro que foi um longo processo para que eu derrotasse todo aquele sistema de crenças que me escravizava, mas hoje estou aqui, tirando sarro da coisa que mais me atormentava naquela época. Desejo o mesmo para todos vocês, que, em algum dia, tudo que os oprime se torne tão pequeno, mas tão pequeno, que vocês possam esmagá-los e jogá-los na lata de lixo da história de suas vidas.