Testemunha de Jeová durante quase toda a sua adolescência, Edilberto Sobrinho teve nessa religião o seu principal algoz para lidar com todas as outras questões que o atormentavam na vida, como o bullying, a total falta de autoestima e a descoberta da sua homossexualidade. Depois de vários anos de fanatismo religioso, o artista finalmente conseguiu se libertar por volta de seus 18 anos, entregando-se aos desenhos de horror como uma forma de botar para fora todo o ódio que sentia das pessoas, de si mesmo e do deus cristão. Após alguns anos, conseguiu fazer as pazes com o cristianismo novamente, desta vez se tornando um cristão moderado e encontrando na doutrina espírita um alento para todas as suas questões.
Após alguns anos bem e com uma fé na vida e na humanidade renovadas, tudo isso se pôs a perder com o advento das redes sociais e do bolsonarismo. O bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” estava em todos os cantos e as pessoas mais imbecis da face da Terra passaram a encher a boca para dizerem que eram cristãs, para logo em seguida dizerem impropérios que deixariam o próprio Adolf Hitler morrendo de inveja. Toda essa onda de reacionarismo da extrema-direita que assolou o nosso país serviu de gatilho para que ele relembrasse a sua época de fanatismo religioso, fazendo-o renegar o cristianismo e o seu deus de uma vez por todas da sua vida.
Mas ao mesmo tempo em que isso foi acontecendo, Edilberto também foi descobrindo a arte sacra e apaixonando-se por ela até que a elegeu como o seu tipo favorito de arte. Esse seu misto de sentimentos tão opostos, pois amava arte sacra ao mesmo tempo em que odiava o seu significado, fizeram com que ele se lançasse em uma nova linha de arte na sua vida. Abandonando o horror gore, Edilberto passou a mesclar elementos de arte sacra com política, satanismo, profanações e pornografia homossexual, coisas que o fizeram perceber que, além de darem uma característica peculiar aos seus trabalhos, também chocava muito mais os cristãos reacionários que o fizeram adoecer do que os desenhos de horror comuns, e passou a se lançar na cena do underground piauiense desde então.
“Acredito sinceramente que a minha homossexualidade vem do Demônio, e acho isso maravilhoso.” (Edilberto Sobrinho)